Sugerimos a leitura de “Alterações Climáticas: Após o Acordo de Paris, Onde Ficamos?” no site Aquecimento Global: A Mais Recente Ciência Climática
No Acordo de Paris, os países comprometeram-se em fortalecer a resposta global à ameaça das alterações climáticas, mantendo o aumento da temperatura média global a menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais e fazendo esforços para limitar o aumento da temperatura em 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
Quanto é que as temperaturas já subiram? Como ilustrado pela imagem acima, dados da NASA mostram que, durante o período trimestral de setembro a novembro de 2015, estava ~ 1°C mais quente do que em 1951-1980 (ou seja, que a linha de base).
Uma tendência polinomial com base nos dados de 1880-2015 para estes três meses indica que um aumento de temperatura de 1,5°C em relação à linha de base será alcançado no ano de 2024.
Vamos verificar os cálculos. A linha de tendência mostra que estava ~ 0,3°C mais frio em 1900 comparado com a linha de base. Considerando o atual aumento em ~ 1°C, isso implica que desde 1900 houve um aumento de 1,3°C em relação à linha de base. Isto faz com que um outro aumento de 0,2°C até 2024, como indicado pela linha de tendência, resultaria num aumento conjunto em 2024 de 1,5°C em comparação com a linha de base.
A situação é ainda pior do que isso. O Acordo de Paris visa evitar um aumento de temperatura de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Quando incluímos os aumentos de temperatura desde os níveis pré-industriais até o ano de 1900, torna-se evidente que já ultrapassámos um aumento de 1,5°C desde os níveis pré-industriais. Isto é ilustrado pela imagem acima, anteriormente adicionada a Quanto tempo resta para agir? (vejam as notas ali), e pelo gráfico em baixo, de uma publicação recente por Michael Mann, que acrescenta que um aquecimento de ~ 0,3°C por efeito de estufa já havia ocorrido por volta do ano de 1900.
Um aquecimento de ~ 0,3°C por efeito de estufa já havia ocorrido pelo ano de 1900.
Vamos adicionar as coisas novamente. Um aumento de ~ 0,3°C antes de 1900, um novo aumento de 0,3°C entre 1900 e a linha de base (1951-1980) e um novo aumento de ~ 1°C desde a linha de base até à data, juntos representam um aumento de ~ 1,6°C em relação aos níveis pré-industriais.
Por outras palavras, já ultrapassámos um aumento de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais em 0,1°C.
A linha de tendência indica que um novo aumento de 0,5°C terá lugar até ao ano de 2030. Ou seja, que sem uma ação abrangente e efetiva, ficará 2°C mais quente do que os níveis pré-industriais antes do ano de 2030.
O pior das emissões ainda está por vir.
A maior parte da ira de aquecimento global ainda está por vir e a situação é ainda mais ameaçadora do que na foto acima, pelas seguintes razões:
- Metade do aquecimento global tem até agora sido mascarado por aerossóis, particularmente os sulfatos que são emitidos quando alguns dos combustíveis fósseis mais sujos são queimados, como o carvão e combustível bunker. Enquanto fizermos a mudança necessária para a energia limpa, o efeito de mascaramento que vem com essas emissões irá desaparecer.
- Como Ricke e Caldeira salientam, o dióxido de carbono que é libertado agora, só atingirá o seu pico de impacto daqui a uma década. Por outras palavras, ainda estamos por experienciar toda a ira do dióxido de carbono emitido durante a última década.
- A maior ameaça vem de picos de temperatura. Pessoas em algumas partes do mundo vão ser atingidas mais fortemente, especialmente durante os picos de verão, como discutido na próxima secção deste post. Enquanto as temperaturas sobem, a intensidade desses picos irá aumentar. A imagem à direita ilustra isso com uma previsão para 25 de Dezembro de 2015, mostrando o tempo extremo para a América do Norte, com temperaturas tão baixas como 30,6°F -0,8°C na Califórnia, e tão elevadas quanto 71,5°F ou 22°C na Carolina do Norte. [a 26 fizeram de facto 22°C na Carolina do Norte e 3°C na Califórnia].
- Mecanismos de reforço positivo como as rápidas mudanças de albedo no Ártico e as grandes quantidades de metano libertadas abruptamente do fundo do mar do Oceano Ártico, podem acelerar dramaticamente o aumento de temperatura. Além disso, o vapor de água vai aumentar em 7% para cada 1°C de aquecimento. O vapor de água é um dos gases de efeito estufa mais fortes, logo, o aumento do vapor de água continuará a contribuir para um aumento não-linear da temperatura. As subidas de temperatura resultantes ameaçam ser não-lineares, como discutido na secção final deste post.
A situação é ainda pior para alguns
Tais aumentos de temperatura vão atingir algumas pessoas mais do que outras. Para as pessoas que vivem no hemisfério norte, a perspectiva é pior do que para as pessoas no Hemisfério Sul.
Dados da NOAA mostram que a anomalia da temperatura global em terra e nos oceanos para novembro foi de 0,97°C, enquanto que a anomalia da temperatura global na terra e nos oceanos para 3 meses foi de 0,96°C. A anomalia da temperatura em terra no Hemisfério Norte (onde a maioria das pessoas vivem) em novembro 2015 para 12 meses foi de 1,39°C, como mostrado na imagem abaixo, enquanto a linha de tendência mostra que, para as pessoas que vivem no Hemisfério Norte, um aumento de 1,5°C em comparação com 1910-2000 poderia ser alcançado tão cedo quanto em 2017.
De forma similar, a perspectiva é pior para as pessoas que vivem em regiões que já estão a experienciar agora elevadas temperaturas durante os picos de verão. Como disse, com o aumento das temperaturas, a intensidade de tais picos irá aumentar.
Mecanismos de Reforço Positivo (Feedbacks) no Ártico
A imagem abaixo, de uma publicação anterior, representa o impacto dos feedbacks que estão a acelerar o aquecimento no Ártico, com base em dados da NASA até Novembro de 2013, e a sua ameaça de causarem aquecimento global descontrolado. Como a imagem mostra, as temperaturas no Ártico estão a subir mais rápido do que em qualquer outro lugar no mundo, mas o aquecimento global ameaça recuperar o atraso assim que os feedbacks começarem a ser mais intensivos. A situação, obviamente, deteriorou-se ainda mais desde que esta imagem foi criada em novembro de 2013.
Aquecimento global acelerado no Ártico resultante dos mecanismos de reforço positivo. 1- Aquecimento global; 2- Aquecimento Acelerado no Ártico; 3- Aquecimento Global Fugidio.
A imagem abaixo mostra as anomalias da temperatura de superfície do mar no Hemisfério Norte em novembro.
A imagem em abaixo dá uma indicação das elevadas temperaturas da água abaixo da superfície do mar. Anomalias tão elevadas como 10,3°C ou 18.5°F foram registadas ao largo da costa leste da América do Norte (círculo verde no painel direito da imagem em baixo) a 11 de dezembro de 2015, enquanto que a 20 de dezembro de 2015, temperaturas tão altas quanto 10.7°C ou 51,3°F foram registadas perto de Svalbard (círculo verde no painel direito da imagem abaixo), uma anomalia de 9,3°C ou 16.7°F.
Esta água quente é levada pela corrente do Golfo para o Oceano Ártico, ameaçando soltar grandes quantidades de metano do fundo do mar. A imagem abaixo ilustra o perigo, mostrando enormes quantidades de metano sobre o Oceano Ártico a 10 de Dezembro, de 2015.
O metano é libertado ao longo do Oceano Ártico em grandes quantidades, e este metano está a mover-se em direção ao equador à medida que atinge grandes altitudes. A imagem em baixo ilustra como o metano está a acumular-se em altitudes mais elevadas.
A imagem em cima mostra que o metano é especialmente proeminente em altitudes mais elevadas recentemente, tendo impulsionado os níveis de metano numa média estimada em 9 ppb ou cerca de 0,5%. As emissões anuais de hidratos foram estimadas em 99 Tg anualmente, numa publicação de 2014 (imagem abaixo).
Fontes de emissões de metano em Tg por ano.
Pântanos – 217 = 28,1%; Combustíveis fósseis e biomassa – 131 = 17%; Ruminantes, arroz, lixeiras – 200 = 25,9%; Outras fontes naturais, lagos, incêndios – 123 = 16%; Hidratos e Permafrost – 100 = 13%; Total – 171 Tg por ano.
Uns adicionais 0,5% de metano representam uma quantidade de cerca de 25Tg de metano. Isto vem em cima dos 99 Tg de metano estimados em 2014 como sendo libertados de hidratos anualmente.
A situação é calamitosa e apela a uma acção abrangente e eficaz, conforme descrito no Plano Climático.
Referências
– How Close Are We to ‘Dangerous’ Planetary Warming? By Michael Mann, December 24, 2015
http://www.huffingtonpost.com/michael-e-mann/how-close-are-we-to-dangerous-planetary-warming_b_8841534.html
– Maximum warming occurs about one decade after a carbon dioxide emission, by Katharine L Ricke and Ken Caldeira (2014)
http://iopscience.iop.org/1748-9326/9/12/124002/article
– How much time is there left to act?
http://arctic-news.blogspot.com/p/how-much-time-is-there-left-to-act.html
Durante os três meses do período entre Setembro e Novembro de 2015, esteve 1°C mais quente do que entre 1951-1980,…
Publicado por Sam Carana na quarta-feira, 16 de Dezembro de 2015, em Arctic-News.blogspot.com