A extensão do gelo marinho do Ártico a 19 de Junho de 2016 estava num recorde mínimo para a época do ano, como a imagem abaixo mostra.
Extensão do gelo do mar no Ártico com o último valor de 9,7 milhões de quilómetros | Comparação das médias de 1980, 1990, 2000, 2012, 2007, 2015 e 2016.
Não só está a extensão do gelo do mar no Ártico num valor baixo recorde para a época do ano, o gelo do mar também está rapidamente a ficar mais fino, mais fragmentado, inferior em concentração e de cor mais escura.
Rachas no gelo do mar a norte da Gronelândia a 19 de junho de 2016, criado com a imagem Arctic-io
Na manhã de 20 de Junho de 2016, fortes libertações de metano foram registadas sobre a água a norte da Gronelândia, bem como a leste da Gronelândia, como ilustrado pela imagem abaixo.
A imagem abaixo mostra que, na manhã de 20 de Junho de 2016, os níveis médios globais de metano aumentaram em várias partes por bilhão numa grande faixa de altitude, em comparação com os dois dias anteriores. Os níveis de metano nas altitudes selecionadas para os dias de Julho de 2015 e Dezembro de 2015, foram adicionados para referência.
Clique na imagem para ampliar | Níveis médios de Metano para os dias selecionados comparando Dezembro e Julho de 2015 e Junho de 2016, com dados da NOAA
As temperaturas no Ártico estão a aumentar, como ilustrado pela imagem abaixo, mostrando que a 19 de Junho de 2016 as temperaturas estavam tão elevadas quanto 31.4°C ou 88.4°F sobre o rio Mackenzie (círculo verde), que termina
no Oceano Ártico (e, assim, aquece o Oceano Ártico ali).
Temperaturas tão elevadas quanto 41.4°C no rio McKenzie (círculo verde) que vai dar ao Oceano Ártico e contribui para o seu aquecimento.
A 20 de Junho de 2016, o Sol irá atingir o seu ponto mais alto (Solstício), e o Árctico terá 24 horas de luz solar, ou seja, no Círculo Ártico (latitude 66,56° norte) ou superior. O Ártico tem cerca de 20 milhões (20.000.000) de quilómetros quadrados (7.700.000 milhas quadradas) de área e abrange cerca de 4% da superfície da Terra. A insolação durante os meses de Junho e Julho é maior no Ártico do que em qualquer outro lugar na Terra, como ilustra a imagem abaixo, por Pidwirny (2006).
A temperatura da superfície do mar perto de Svalbard estava tão elevada quanto 55°F (12,8°C, no círculo verde) a 14 de Junho de 2016, uma anomalia de 19,6°F (10,9°C) em relação a 1981-2011, conforme ilustrado pela imagem abaixo.
12.5°C de temperatura registados no mar de Svalbard no Ártico, uma diferença de 10.9°C em relação à média de 1981-2011.
Manchas de água fria no Atlântico e Pacífico reveladas pela imagem da NASA com as anomalias da temperatura em relação a 1951-1980
A imagem acima, criada com nullschool.net, mostra ainda que a tampa de água fria que vinha crescendo de forma tão proeminente em extensão sobre o Atlântico Norte ao longo dos últimos anos, tem diminuído substancialmente. Em comparação, a área fria sobre o Pacífico Norte tem ficado maior. Isto é ainda confirmado pela imagem à direita, criado com mapas da NASA que mostram anomalias de temperatura do oceano para Maio de 2016.
A água do degelo fluiu em abundância da Gronelândia em 2016, como ilustrado pela imagem da NSIDC.gov abaixo. O escorrimento a partir do Alasca e da Sibéria para o Pacífico parece menor, em comparação, do que o escorrimento para o Atlântico Norte. Então, como pode ser que a área fria no Pacífico Norte tem ficado maior do que a área fria no Atlântico Norte?
Poderia haver outro factor que influencia o tamanho dessas áreas frias no Atlântico Norte e no Pacífico Norte?
A imagem abaixo, criada com imagens da NOAA, dá uma comparação entre a situação a 1 de Junho de 2015 (em cima) e 1 de Junho de 2016 (em baixo), mostrando anomalias em relação a 1961-1990.
A diferença é surpreendente, especialmente quando considerando a força das anomalias mais frias (em relação a 1961-1990). Para além de água do degelo, algo mais deve estar a influenciar o tamanho e a força dessas anomalias no Atlântico Norte e no Pacífico Norte de maneiras diferentes. Muito provavelmente, a diferença é causada pela Correia Transportadora Oceânica (ou circulação termoalina), que está a levar água quente para o Atlântico Norte, enquanto leva água fria para fora do Atlântico Norte. No Pacífico Norte, está a fazer o oposto, ou seja, a trazer água fria, enquanto transporta água quente para fora do Pacífico Norte.
A Correia Transportadora Oceânica ou circulação termoalina, aquece o Oceano Atlântico enquanto arrefece o Pacífico, revelando alterações nas manchas de água fria do degelo.
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Em conclusão, existem vários fatores que estão a influenciar a situação, incluindo a influência que tem o El Niño e o impacto que a La Niña vai ter, e as mudanças nas correntes oceânicas. Mesmo que a correia transportadora possa ficar mais lenta, mais importante do que a sua velocidade é a quantidade de calor que vai levar para o Oceano Ártico. A imagem abaixo mostra uma tendência a apontar para a água no Hemisfério Norte a ficar 2 graus Celsius mais quente bem antes do ano 2030, em comparação com a média do século 20.
Se essas tendências continuarem ou mesmo se reforçarem, água cada vez mais quente será transportada do Atlântico Norte para o Oceano Ártico, contrariando o possível arrefecimento devido ao escorrimento resultante do degelo. Como o afluxo no Atlântico é cerca de 10 vezes maior em volume do que o afluxo no Pacífico, o resultado será ainda mais aceleração no aquecimento do Oceano Ártico.
Um Oceano Ártico mais quente irá acelerar o declínio do gelo do mar, fazendo com que mais luz solar seja absorvida pelo Oceano Ártico, sendo um dos mecanismos de auto-reforço (feedbacks) que estão a acelerar ainda mais o aquecimento do Oceano Ártico. O feedback # 14 refere-se ao calor (latente), que anteriormente foi para a fusão. Com o desaparecimento do gelo do mar, uma proporção crescente do calor do oceano é absorvida pelo Oceano Ártico.
À medida que o gelo do mar aquece, 2,06 J/g de calor vão para cada grau Celsius de aumento da temperatura do gelo. Enquanto o gelo está a derreter, toda a energia (em 334J/g) vai para transformar o gelo em água e a temperatura mantém-se a 0°C (273.15K, 32°F).
Uma vez que todo o gelo se transforme em água, todo o calor subsequente vai para o aquecimento da água, a 4,18 J/g para cada grau Celsius que a temperatura da água aumente.
A quantidade de energia absorvida pela fusão do gelo é tanta quanto a necessária para aquecer uma massa equivalente de água de zero a 80°C.
O gelo do mar está em má forma, como também ilustrado pela comparação da concentração acima, entre 24 de Junho de 2012 e uma previsão para 24 de Junho de 2016.
Como a comparação acima mostra, o gelo do mar está agora também muito mais fino do que estava em 2012. O gelo marinho espesso costumava se estender metros abaixo da superfície do mar no Ártico, onde poderia consumir enormes quantidades de calor do oceano através do derretimento deste gelo em água. Como tal, o gelo marinho espesso agia como um tampão. Ao longo dos anos, a espessura do gelo do mar no Ártico diminuiu da forma mais dramática. Isto significa que o tampão que é utilizado para consumir grandes quantidades de calor do oceano levado pelas correntes marinhas para o Oceano Ártico, tem desaparecido agora em grande parte.
Espessura do gelo antes de 2012 | Gelo pouco espesso após 2012 | Calor do Oceano | Hidratos de Metano | Efeito Tampão desaparece
O perigo é que o calor vai chegar ao leito marinho (fundo do mar) e vai desestabilizar os hidratos de metano contidos nos sedimentos no fundo do mar do Oceano Ártico.
A situação é calamitosa e apela a uma acção abrangente e eficaz, conforme descrito no Plano Climático.
Traduzido do original Ocean Heat Overwhelming North Atlantic de Sam Carana, publicado no blogue Arctic News, a 17 de Junho de 2016.