Comparação das anomalias das temperaturas de 2016, 2015, 2014 e 2010
Peter Sinclair

O Pico de Temperatura deste Mês Significa o Quê?

Steve Sherwood e Stefan Rahmstorf em The Conversation:

As temperaturas globais para fevereiro revelaram um pico preocupante e sem precedentes. Esteve 1,35℃ mais quente do que a média de fevereiro para o período de linha de base usual de 1951-1980, de acordo com dados da NASA.

Esta é a maior anomalia quente de qualquer mês desde que os registos começaram em 1880. Excede em muito os recordes batidos em 2014 e novamente em 2015 (o primeiro ano em que a marca de 1℃ foi ultrapassada).

No mesmo mês, a cobertura de gelo marinho do Ártico atingiu o seu valor mais baixo para fevereiro jamais registado. E a concentração de dióxido de carbono na atmosfera no ano passado aumentou mais de 3 partes por milhão, outro recorde.

O que é que se passa? Estamos diante de uma emergência climática?

Toca a acordar
Toca a acordar! Situação de emergência de aquecimento global com pico de temperatura de fevereiro

Desvio da média de 1951-1980 das temperaturas para fevereiro entre 1880 e 2016

Temperaturas de fevereiro de 1880 a 2016, a partir de dados da NASA GISS. Os valores são desvios do período base de 1951-1980. Stefan Rahmstorf

O El Niño e a Mudança Climática

Duas coisas que se estão a combinar para produzir o calor recorde: a tendência de aquecimento global que nos é bem conhecida causada pelas nossas emissões de gases de efeito estufa, e um El Niño no Pacífico tropical.

O registo mostra que o aquecimento da superfície global foi sempre sobreposto pela variabilidade climática natural. A maior causa dessa variabilidade é o ciclo natural entre as condições de El Niño e La Niña. O El Niño em 1998 bateu os recordes, mas agora temos um que parece ser ainda maior em algumas medidas.

O padrão de calor em fevereiro mostra assinaturas típicas tanto do aquecimento global a longo prazo como do El Niño. Este último é muito evidente nos trópicos.

Mais ao norte, o padrão é semelhante a outros fevereiros desde o ano 2000: um aquecimento particularmente forte no Ártico, Alasca, Canadá e no norte do continente Euro-Asiático. Outra característica notável é uma bolha fria no Atlântico Norte, que tem sido atribuída a um abrandamento na Corrente do Golfo.

O pico de aquecimento de Fevereiro trouxe-nos pelo menos 1,6℃ acima dos níveis pré-industriais das temperaturas médias globais. Isto significa que, pela primeira vez, ultrapassámos a meta aspiracional internacional de 1,5℃ acordada em dezembro, em Paris. Estamos a chegar desconfortavelmente perto de 2℃.

Felizmente, isto é temporário: o El Niño está a começar a diminuir.

Infelizmente, fizemos pouco quanto ao aquecimento subjacente. Se não for controlado, isso fará com que esses picos aconteçam mais e mais vezes, com um pico maior que 2℃ a estar talvez apenas a um par de décadas de distância.

Os gases de efeito estufa que aquecem lentamente a Terra continuam a aumentar em concentração. A média de 12 meses ultrapassou as 400 partes por milhão mais ou menos há um ano – o nível mais alto em pelo menos um milhão de anos. A média subiu ainda mais rápido em 2015 do que nos anos anteriores (provavelmente também devido ao El Niño, pois isso tende a trazer seca para muitas partes do mundo, o que significa que menos carbono é armazenado no crescimento de plantas).

Um lampejo de esperança é que as nossas emissões de dióxido de carbono dos combustíveis fósseis, pela primeira vez em décadas, pararam de aumentar. Esta tendência tem sido evidente ao longo dos dois últimos anos, principalmente devido a um declínio do uso do carvão na China, que anunciou recentemente o encerramento de cerca de 1.000 minas de carvão.

Temos subestimado o aquecimento global?

Será que o “pico” muda a nossa compreensão do aquecimento global? Ao pensar sobre a mudança climática, é importante adotar uma visão de longo prazo. Uma situação tipo La Niña predominante nos últimos anos não significou que o aquecimento global tinha “parado”, como algumas figuras públicas estavam (e provavelmente ainda estão) a reivindicar.

Da mesma forma, um pico quente devido a um grande evento El Niño – mesmo que surpreendentemente quente – não significa que o aquecimento global tenha sido subestimado. No longo prazo, a tendência de aquecimento global está muito bem de acordo com as previsões de longa data. Mas essas previsões, no entanto, pintam um retrato de um futuro muito quente se as emissões não forem reduzidas em breve.

A situação é semelhante à de uma doença grave como cancro: o paciente normalmente não fica ligeiramente pior a cada dia, mas tem semanas em que a família pensa que ele pode estar a recuperar, seguidas de dia terríveis de recaídas. Os médicos não mudam o seu diagnóstico de cada vez que isso acontece, porque eles sabem que isto faz tudo parte da doença.

Embora o corrente pico derivado do El-Niño seja temporário, vai durar tempo suficiente para ter algumas consequências graves. Por exemplo, um evento maciço de branqueamento de coral parece provável na Grande Barreira de Corais.

Aqui na Austrália temos vindo a bater recordes de calor nos últimos meses, incluindo 39 dias seguidos em Sydney acima de 26℃ (o dobro do recorde anterior). As notícias parecem estar centradas no papel do El Niño, mas o El Niño não explica por que os oceanos ao sul da Austrália, e no Ártico, estão em temperaturas altas recorde.

A outra metade da história é o aquecimento global. Isto está a impulsionar cada El Niño sucessivo, juntamente com todos os seus outros efeitos sobre as camadas de gelo e o nível do mar, o ecossistema global e eventos climáticos extremos.

Esta é a verdadeira emergência climática: está a ficar mais difícil, a cada ano que passa, para a humanidade evitar que as temperaturas subam acima de 2℃. Fevereiro devia lembrar-nos o quão urgente é a situação.

Traduzido do original What Does This Month’s Temp Spike Mean? de Peter Sinclair, publicado no blogue Climate Denial Crock of the Week, a 16 de Março de 2016.
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Anomalia do indice de temperatura terra mar para fevereiro 2016
Aquecimento Global Descontrolado, Feedbacks, Temperatura

Temperatura em Fevereiro

O artigo “Temperatura em Fevereiro” foi trazido do site Alterações Climáticas: A Mais Recente Ciência Climática Trazida de Diversas Fontes
 

A anomalia da temperatura da terra e do oceano para fevereiro de 2016 foi de 1,35°C (2,43°F) acima da temperatura média no período de 1951 a 1980, como mostra a imagem abaixo (projeção Robinson).

Anomalia do indice de temperatura terra mar para fevereiro 2016

Em terra, esteve 1,68°C (3,02°F) mais quente em fevereiro de 2016, em comparação com 1951-1980, como a imagem em baixo mostra (projeção polar).

Anomalia da temperatura terrestre para fevereiro de 2016

A imagem em baixo combina os dois números em cima em dois gráficos, mostrando as anomalias de temperatura ao longo das últimas duas décadas.

Índice de Temperatura Terra-Oceano e as Anomalias da Temperatura do Ar à Superfície em Terra

Em baixo temos o gráfico completo, que mostra que as anomalias estavam bem abaixo de zero antes do período de 1951 a 1980, o qual é usado como uma referência para calcular anomalias. A linha azul mostra dados terra-mar, enquanto a linha vermelha mostra dados de estações apenas em terra.

Anomalias da temperatura desde 1880

No Acordo de Paris, as nações empenharam-se em fortalecer a resposta global à ameaça das alterações climáticas, ao manter o aumento da temperatura média global a menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais e fazerem esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

Para vermos o quanto as temperaturas subiram em relação aos níveis pré-industriais, uma comparação com o período 1951-1980 não dá o quadro todo. A imagem abaixo compara as temperaturas de fevereiro de 2016, com o período de 1890 a 1910, novamente apenas em terra.

Temperaturas em terra para fevereiro 2016 em comparação com  média 1890-1910

Como as temperaturas já haviam subido ~ 0,3°C (0,54°F) antes de 1900, o aumento total da temperatura em terra em fevereiro de 2016 é, portanto, de 2,6°C (4,68°F) em comparação com o início da revolução industrial.

Há um certo número de elementos que determinam o quanto o aumento de temperatura total em terra irá ser, digamos, daqui a uma década:

Aumento de 1900-2016: Em fevereiro de 2016, esteve 2,3°C (4,14°F) mais quente em terra do que esteve em 1890-1910.

Aumento antes de 1900: Antes de 1900, a temperatura já havia subido uns ~ 0,3°C (0,54°F), como o Dr. Michael Mann indica (ver neste post anterior, em Português).

Aumento 2016-2026: Em 2015, a média de dióxido de carbono global cresceu 3,09 ppm, mais do que em qualquer ano desde que o registo começou em 1959, levando um post anterior [em português] a adicionar uma linha de tendência polinomial que aponta para um crescimento de 5 ppm até 2026 (uma década a partir de agora). Se os níveis de dióxido de carbono e de outros gases de efeito estufa continuam a aumentar, haverá aquecimento adicional durante os próximos dez anos. Mesmo com cortes drásticos nas emissões de dióxido de carbono, as temperaturas continuarão a subir, já que o aquecimento máximo ocorre cerca de uma década após a emissão de dióxido de carbono, de modo que a ira completa das emissões de dióxido de carbono ao longo dos últimos dez anos ainda está por vir.

Remoção de aerossóis: Com cortes drásticos nas emissões, também haverá uma queda dramática nos aerossóis que atualmente mascaram o aquecimento total pelos gases de efeito estufa. De 1850 a 2010, os aerossóis antropogénicos provocaram uma diminuição de ~2.53 K, diz um artigo recente. Além disso, as pessoas emitiram muito mais aerossóis desde 2010, de modo que o efeito de mascaramento atual de aerossóis será ainda maior.

Mudança de Albedo: Aquecimento devido à perda de neve e gelo do Ártico pode muito bem ultrapassar 2 W por metro quadrado, ou seja, pode mais do que duplicar o aquecimento líquido agora causado por todas as emissões pelas pessoas do mundo, calculou o Professor Peter Wadhams em 2012.

Erupções de metano do fundo do mar: “… consideramos a libertação de até 50 Gt do montante previsto das reservas de hidratos como altamente possível, numa libertação abrupta a qualquer momento,” a Dr. Natalia Shakhova et al. escreveu num documento apresentado na Assembléia Geral da EGU [União Europeia para as Geociências] de 2008. Os autores descobriram que tal libertação causaria um aquecimento de 1,3°C até 2100. Note-se que um tal aquecimento de umas 50 Gt extra de metano parece conservador quando se considera que há agora apenas cerca de 5 Gt de metano na atmosfera, e ao longo de um período de dez anos estas 5 Gt já são responsáveis por mais aquecimento do que todo o dióxido de carbono emitido pelas pessoas desde o início da revolução industrial.

Feedback do vapor de água: O feedback do vapor de água por si só, aproximadamente que duplica o aquecimento que seria para o vapor de água fixo. Além disso, o feedback de vapor de água age para amplificar outros feedbacks em modelos, como o feedback das nuvens e o feedback do albedo do gelo. Se o feedback de nuvens é fortemente positivo, o feedback de vapor de água pode levar a 3,5 vezes mais aquecimento do que seria no caso em que a concentração de vapor de água fosse mantida fixa, de acordo com o IPCC.

A imagem em baixo junta estes elementos em dois cenários, um com um aumento de temperatura relativamente baixo de 3,9°C (7,02°F) e outro com um aumento de temperatura relativamente elevado de 10,4°C (18,72°F).

Aumento da temperatura previsto para 10 anos, feedbacks

Note-se que os cenários acima assumem que nenhuma geoengenharia ocorrerá.

A situação é calamitosa e apela a uma acção abrangente e eficaz, conforme descrito no Plano Climático.

Traduzido do original February Temperature de Sam Carana, publicado no blogue Arctic News, a 13 de Março de 2016.

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Índice de Temperatura Terra-Oceano e as Anomalias da Temperatura do Ar à Superfície em Terra
Sam Carana

Temperatura em Fevereiro

A anomalia da temperatura da terra e do oceano para fevereiro de 2016 foi de 1,35°C (2,43°F) acima da temperatura média no período de 1951 a 1980, como mostra a imagem abaixo (projeção Robinson).

Anomalia do indice de temperatura terra mar para fevereiro 2016

Em terra, esteve 1,68°C (3,02°F) mais quente em fevereiro de 2016, em comparação com 1951-1980, como a imagem em baixo mostra (projeção polar).

Anomalia da temperatura terrestre para fevereiro de 2016

A imagem em baixo combina os dois números em cima em dois gráficos, mostrando as anomalias de temperatura ao longo das últimas duas décadas.

Índice de Temperatura Terra-Oceano e as Anomalias da Temperatura do Ar à Superfície em Terra

Em baixo temos o gráfico completo, que mostra que as anomalias estavam bem abaixo de zero antes do período de 1951 a 1980, o qual é usado como uma referência para calcular anomalias. A linha azul mostra dados terra-mar, enquanto a linha vermelha mostra dados de estações apenas em terra.

Anomalias da temperatura desde 1880

No Acordo de Paris, as nações empenharam-se em fortalecer a resposta global à ameaça das alterações climáticas, ao manter o aumento da temperatura média global a menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais e fazerem esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

Para vermos o quanto as temperaturas subiram em relação aos níveis pré-industriais, uma comparação com o período 1951-1980 não dá o quadro todo. A imagem abaixo compara as temperaturas de fevereiro de 2016, com o período de 1890 a 1910, novamente apenas em terra.

Temperaturas em terra para fevereiro 2016 em comparação com média 1890-1910

Como as temperaturas já haviam subido ~ 0,3°C (0,54°F) antes de 1900, o aumento total da temperatura em terra em fevereiro de 2016 é, portanto, de 2,6°C (4,68°F) em comparação com o início da revolução industrial.

Há um certo número de elementos que determinam o quanto o aumento de temperatura total em terra irá ser, digamos, daqui a uma década:

Aumento de 1900-2016: Em fevereiro de 2016, esteve 2,3°C (4,14°F) mais quente em terra do que esteve em 1890-1910.

Aumento antes de 1900: Antes de 1900, a temperatura já havia subido uns ~ 0,3°C (0,54°F), como o Dr. Michael Mann indica (ver neste post anterior, em Português).

Aumento 2016-2026: Em 2015, a média de dióxido de carbono global cresceu 3,09 ppm, mais do que em qualquer ano desde que o registo começou em 1959, levando um post anterior [em português] a adicionar uma linha de tendência polinomial que aponta para um crescimento de 5 ppm até 2026 (uma década a partir de agora). Se os níveis de dióxido de carbono e de outros gases de efeito estufa continuam a aumentar, haverá aquecimento adicional durante os próximos dez anos. Mesmo com cortes drásticos nas emissões de dióxido de carbono, as temperaturas continuarão a subir, já que o aquecimento máximo ocorre cerca de uma década após a emissão de dióxido de carbono, de modo que a ira completa das emissões de dióxido de carbono ao longo dos últimos dez anos ainda está por vir.

Remoção de aerossóis: Com cortes drásticos nas emissões, também haverá uma queda dramática nos aerossóis que atualmente mascaram o aquecimento total pelos gases de efeito estufa. De 1850 a 2010, os aerossóis antropogénicos provocaram uma diminuição de ~2.53 K, diz um artigo recente. Além disso, as pessoas emitiram muito mais aerossóis desde 2010, de modo que o efeito de mascaramento atual de aerossóis será ainda maior.

Mudança de Albedo: Aquecimento devido à perda de neve e gelo do Ártico pode muito bem ultrapassar 2 W por metro quadrado, ou seja, pode mais do que duplicar o aquecimento líquido agora causado por todas as emissões pelas pessoas do mundo, calculou o Professor Peter Wadhams em 2012.

Erupções de metano do fundo do mar: “… consideramos a libertação de até 50 Gt do montante previsto das reservas de hidratos como altamente possível, numa libertação abrupta a qualquer momento,” a Dr. Natalia Shakhova et al. escreveu num documento apresentado na Assembléia Geral da EGU [União Europeia para as Geociências] de 2008. Os autores descobriram que tal libertação causaria um aquecimento de 1,3°C até 2100. Note-se que um tal aquecimento de umas 50 Gt extra de metano parece conservador quando se considera que há agora apenas cerca de 5 Gt de metano na atmosfera, e ao longo de um período de dez anos estas 5 Gt já são responsáveis por mais aquecimento do que todo o dióxido de carbono emitido pelas pessoas desde o início da revolução industrial.

Feedback do vapor de água: O feedback do vapor de água por si só, aproximadamente que duplica o aquecimento que seria para o vapor de água fixo. Além disso, o feedback de vapor de água age para amplificar outros feedbacks em modelos, como o feedback das nuvens e o feedback do albedo do gelo. Se o feedback de nuvens é fortemente positivo, o feedback de vapor de água pode levar a 3,5 vezes mais aquecimento do que seria no caso em que a concentração de vapor de água fosse mantida fixa, de acordo com o IPCC.

A imagem em baixo junta estes elementos em dois cenários, um com um aumento de temperatura relativamente baixo de 3,9°C (7,02°F) e outro com um aumento de temperatura relativamente elevado de 10,4°C (18,72°F).

Aumento da temperatura previsto para 10 anos, feedbacks

Note-se que os cenários acima assumem que nenhuma geoengenharia ocorrerá.

O aquecimento de 2,3°C usado na imagem acima não é o maior valor oferecido pelo site da NASA. Um número ainda mais elevado de aquecimento de 2,51°C pode ser obtido ao selecionar-se um ‘smoothing radius’ de 250 km para os dados em terra.

Anomalia da temperatura em terra para fevereiro 2016 comparada com média 1890-1910

Ao adicionar os 0,3°C de subida da temperatura antes de 1900, o aumento desde o início da revolução industrial é de 2,81°C (5,06°F), como ilustra a imagem à direita.

A imagem também mostra que este é o aumento médio. Em locais específicos, está tanto quanto 16,6°C (30°F) mais quente do que no início da revolução industrial.

Além disso, as temperaturas estão mais altas no Hemisfério Norte do que no Hemisfério Sul. Isto é ilustrado pela imagem abaixo que mostra as anomalias de temperatura pela NASA para janeiro de 2016 (preto) e Fevereiro de 2016 (vermelho), em terra, no Hemisfério Norte. Os dados mostram que esteve 2,36°C (4.25°F) mais quente em fevereiro de 2016 em comparação com 1951-1980.

Anomalia da Temperatura de Janeiro e Fevereiro de 2016 comparação com 1951-1980

Quanto do aumento pode ser atribuído ao El Nino? As linhas de tendência adicionadas constituem uma maneira de lidar com variabilidade como a causada por eventos de El Niño e La Niña, e elas também podem indicar o quanto de aquecimento pode ser esperado eventualmente durante os anos vindouros.

A linha de tendência de fevereiro também indica que esteve 0,5°C mais frio em 1900 do que em 1951-1980, de modo que o aumento desde 1900 é de 2,86°C (5,15°F). Juntamente com um aumento de 0,3°C antes de 1900, isto representa uma subida em terra no Hemisfério Norte de 3,16°C (5,69°F) em relação aos níveis pré-industriais. A maioria das pessoas na Terra vive em terra no Hemisfério Norte. Por outras palavras, a maioria das pessoas já estão expostas a um aumento de temperatura que está bem acima de quaisquer limites de segurança que os países do Acordo de Paris se comprometeram a não serem cruzados.

Anomalias da temperatura maiores n Ártico, a 14 de Março de 2016

As temperaturas podem aliás aumentar ainda mais rapidamente do que estas linhas de tendência indicam. Como a imagem acima ilustra, os maiores aumentos de temperatura estão a ocorrer no Ártico, resultando num rápido declínio da cobertura de neve e gelo e aumentando o perigo de que grandes erupções de metano do fundo do mar possam ocorrer. Tudo isso também poderia levar a mais vapor de água, enquanto as subidas de temperatura resultantes ameaçam causar mais secas, ondas de calor e incêndios florestais que irão causar mais emissões, bem como escassez de alimentos e de água doce em muitas áreas.

Adicionar-se os vários elementos como discutido acima indica que a maioria das pessoas podem muito bem ser atingidas por um aumento de temperatura de 4,46°C ou 8,03°F num cenário de pequeno aumento e um de 10,96°C ou 19,73°F num cenário de grande aumento, e isso seria numa década a partir de fevereiro de 2016. Uma vez que já estamos em Março de 2016, isso é em menos de dez anos a partir de agora.

A situação é calamitosa e apela a uma acção abrangente e eficaz, conforme descrito no Plano Climático.

Traduzido do original February Temperature de Sam Carana, publicado no blogue Arctic News, a 13 de Março de 2016.
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Robertscribbler

O Telhado Está a Arder – Parece que Fevereiro de 2016 Esteve 1.5 a 1.7 C Acima das Médias de 1880

Antes de começarmos a explorar esta instância mais recente e mais extrema de uma longa série de temperaturas globais de quebrar recordes, devíamos ter um momento para creditar os nossos “amigos” negadores da mudança climática pelo que está a acontecer no Sistema Terra.

Durante décadas, uma coligação de interesses especiais em combustíveis fósseis, investidores de grandes negócios, grupos de reflexão relacionados, e a grande maioria do Partido Republicano, têm lutado estridentemente para evitarem uma acção eficaz na mitigação dos piores efeitos da mudança climática. Na sua louca missão, eles atacaram a ciência, demonizaram líderes, paralizaram o Congresso, mancaram o governo, apoiaram combustíveis fósseis destinados a falhar, impediram ou desmancharam regulamentação útil, tornaram o Supremo Tribunal numa arma contra as soluções de energias renováveis, e puseram abaixo indústrias que teriam ajudado a reduzir o dano.

Através destas ações, eles têm sido bem sucedidos na prevenção da mudança rápida e necessária de desistência da queima de combustíveis fósseis, travando uma liderança americana florescente em energias renováveis ​​e ao inundarem o mundo com o carvão, petróleo e gás de baixo custo, que são agora tão destrutivos para a estabilidade do Sistema Terra. Agora, parece que alguns dos impactos mais perigosos das alterações climáticas já estão garantidos. E assim, quando a história olha para trás e pergunta – por que fomos tão estúpidos? Podemos honestamente apontar os nossos dedos para aqueles ignorantes e dizer “aqui estavam os sumo sacerdotes infernais que sacrificaram um futuro assegurado e a segurança dos nossos filhos no altar de seu orgulho tolo.”

Piores Receios para o Aquecimento Global Realizados

Sabíamos que ia haver sarilho. Sabíamos que as emissões de gases de efeito estufa humanas tinham carregado o oceano global com calor. Sabíamos que um El Nino recorde iria explodir um grande bocado desse calor de volta para a atmosfera assim que começou a desvanecer. E sabíamos que mais recordes da temperatura global estavam a caminho no final de 2015 e início de 2016. Mas tenho que admitir que os primeiros indícios para fevereiro são simplesmente assombrosos.

Aquecimento Global Extremo - temperaturas

(O modelo GFS mostra temperaturas com médias de 1.01 C acima da já significativamente mais quente do que o normal linha de base de 1981-2010. Observações subsequentes a partir de fontes independentes confirmaram este pico dramático da temperatura para fevereiro. Aguardamos as observações da NASA, NOAA e JMA para uma confirmação final. Mas a tendência nos dados é surpreendentemente clara. O que estamos a ver são as temperaturas globais mais quentes, de longe, desde que os registos começaram. Note-se que as maiores anomalias de temperatura aparecem exatamente onde não as queremos – no Ártico. Fonte da imagem: GFS e MJ Ventrice).

Eric Holthaus e MJ Ventrice, na segunda-feira, foram os primeiros a dar o aviso de um pico extremo nas temperaturas tal como registado pela medição global por satélite. Seguiu-se uma série de relatos dos mídia. Mas foi só hoje que começámos realmente a ter uma visão clara do potencial de danos atmosféricos.

Nick Stokes, um cientista do clima aposentado e blogger em Moyhu, publicou uma análise dos dados preliminares recentemente libertados pela NCAR e o indicador está simplesmente elevado de modo absolutamente fora de série. De acordo com esta análise, as temperaturas de fevereiro podem ter estado tanto quanto 1,44 C mais quentes do que a linha de base da NASA de 1951-1980. Convertendo as diferenças a partir dos valores da década de 1880, se estas estimativas preliminares se confirmarem, iriam colocar os números do GISS nuns extremos 1,66 C mais quentes do que os níveis de 1880 para fevereiro. Se o GISS corre 0,1 C mais frio do que as conversões NCAR, como tem feito ao longo dos últimos meses, então o aumento de temperatura de 1880 a fevereiro de 2016 seria de cerca de 1,56 C. Ambos são saltos incrivelmente altos que deixam uma dica de que 2016 poderia vir a ser bastante mais quente do que até mesmo 2015.

É importante notar que grande parte destas temperaturas globais elevadas recorde estão centradas no Ártico – uma região que é muito sensível ao aquecimento e que tem o potencial de produzir uma série de feedbacks amplificadores perigosos. Assim, poderíamos muito bem caracterizar um fevereiro quente recorde iminente como um no qual muito do excesso de calor explodiu no Ártico. Por outras palavras, os gráficos da anomalia da temperatura global fazem parecer que o teto do mundo está em chamas. Isso não é literal. Grande parte do Ártico permanece abaixo de zero. Mas anomalias de 10 a 12 C acima da temperatura média para um mês inteiro em grandes regiões do Ártico é um assunto sério. Isso significa que grandes partes do Ártico não experienciaram nada que se aproxime de um verdadeiro inverno no Ártico este ano [Artigo em Português].

Parece que o Limiar de 1,5 C foi Quebrado na Medição Mensal e Podemos Estar a Olhar para 1,2 a 1,3 C+ Acima de 1880s para todo 2016

Colocando estes números em contexto, parece que podemos ter já ultrapassado o limiar de 1,5 C acima dos valores dos anos de 1880 na medição mensal em fevereiro. Isto está a entrar num campo de riscos elevados para a aceleração do derretimento do gelo marinho e da neve no Ártico, perda de albedo, descongelamento da permafrost e uma série de outros feedbacks relacionados amplificadores de um aquecimento do nosso mundo forçado por humanos. Um conjunto de mudanças que irão, provavelmente, adicionar à velocidade de um, já rápido de si, aquecimento baseado em combustíveis fósseis. Mas devemos ter muito claro que as diferenças mensais não são diferenças anuais, e que a medida anual para 2016 é menos provável de vir a atingir ou exceder a diferença de 1.5 C. É justo dizer, porém, que diferenças anuais de 1,5 C são iminentes e vão provavelmente aparecer dentro de 5 a 20 anos.

Se usarmos o El Nino de 1997-1998 como base, descobrimos que as temperaturas globais para esse evento atingiram um máximo de cerca de 1,1 C acima das médias da década de 1880 durante fevereiro. O ano, contudo, ficou em cerca de 0,85 C acima das médias de 1880. Usando uma análise semelhante de verso de guardanapo, e assumindo que 2016 irá continuar a ver as temperaturas de superfície do mar Equatorial a continuarem a arrefecer, podemos estar a olhar para 1,2 a 1,3 C acima da média de 1880 para este ano.

Previsao para El Nino - Anomalia da Temperatura

(O El Nino está a arrefecer. Mas continuará a arrastar-se até 2016? Os conjuntos do modelo do Climate Prediction Center CFSv2 [Centro de Previsão Climática] parecem pensar que sim. A execução mais recente mostra a corrente El Nino a refortalecer-se no Outono de 2016. Tal evento tenderia a empurrar as temperaturas globais anuais para mais perto de 1,5 C acima do limiar da década de 1880. Também estabeleceria o potencial externo para mais um ano quente recorde em 2017. É importante notar que o consenso da NOAA ainda é o de um ENSO Neutro a enfraquecer as condições de La Niña pelo Outono. Fonte da imagem: Centro de Previsão do Clima da NOAA).

A NOAA está presentemente a prever que o El Nino fará a transição para ENSO Neutro ou para uma la Nina fraca, pelo final do ano. Contudo, algumas execuções de modelos mostram que o El Nino nunca chega a terminar realmente para 2016. Em vez disso, estes modelos prevêm que um El Nino fraco a moderado venha no Outono. Em 1998, um forte La Nina começou a formar-se, o que teria ajudado a conter as temperaturas atmosféricas no final do ano. A previsão de 2016, contudo, não parece indicar tão grande assistência no arrefecimento atmosférico proveniente do sistema oceânico global. Então, as médias anuais no fim de 2016 poderão empurrar mais para perto de 1,3 C (ou um pouco mais) acima dos níveis da década de 1880.

Tivemos Este Aquecimento no Sistema Já Há Algum Tempo, Apenas Estava a Esconder-se nos Oceanos

Outro pedaço do contexto sobre o qual devíamos ser muito claros, é que o Sistema Terra tem estado a viver com o calor atmosférico que estamos a ver agora há algum tempo. Os oceanos iniciaram uma acumulação muito rápida de calor devido ao forçamento das emissões de gases de efeito estufa durante os anos 2000. Uma taxa de acumulação de calor nas águas do mundo que tem acelerado até ao presente ano. Este excesso de calor já impactou o sistema climático ao acelerar a desestabilização dos glaciares na zona basal na Gronelândia e na Antártida. E também contribuiu para novas perdas recorde do gelo marinho global e é uma fonte provável de relatórios das zonas de plataforma continental do mundo nas quais têm sido observadas pequenas, mas preocupantes, instabilidades nos clatratos.

Acumulação de calor pelo oceano global

(A acumulação de calor no oceano global tem estado a subir em rampa desde o final dos anos 1990, com 50 por cento da acumulação total de calor a ocorrer nos 18 anos entre 1997 e 2015. Uma vez que mais de 90 por cento do forçamento de calor pelos gases de efeito estufa acaba no sistema do oceano global, esta medida em particular é provavelmente a imagem mais precisa de um mundo em rápido aquecimento. Uma tão rápida acumulação de calor nos oceanos do mundo garantiu uma eventual resposta da atmosfera. A verdadeira questão agora é – quão rapidamente e quão extensa? Fonte da imagem: Nature).

Mas elevar o aquecimento atmosférico terá inúmeros impactos adicionais. Irá colocar pressão sobre as regiões de superfície dos glaciares globais, adicionando ao aumento repentino na pressão de fusão basal que já vimos. Irá amplificar ainda mais o ciclo hidrológico – aumentando as taxas de evaporação e precipitação em todo o mundo e amplificando secas extremas, incêndios e inundações. Vai aumentar as temperaturas de superfície globais de pico, aumentando assim a incidência de eventos de baixas em massa por vagas de calor. Irá fornecer mais energia de calor latente para as tempestades, continuando a empurrar para cima o limiar de intensidade de pico destes eventos. E vai ajudar a acelerar o ritmo das mudanças regionais nos sistemas climáticos tais como a instabilidade do tempo no Atlântico Norte e aumentar a tendência de seca nos EUA (especialmente o Sudoeste dos EUA).

Entrando na Zona Perigosa da Mudança Climatica

O intervalo de 1-2 C acima das temperaturas da década de 1880 em que estamos agora a entrar é um em que as mudanças climáticas perigosas tenderão a crescer de forma mais rápida e aparente. Tal calor atmosférico não tem sido experienciado na Terra em pelo menos 150.000 anos, e o mundo de então era um lugar muito diferente daquilo a que os seres humanos foram acostumados no século 20. Contudo, a velocidade a que as temperaturas globais estão a subir é muito mais rápida do que alguma vez foi visto durante qualquer período interglacial para os últimos 3 milhões de anos, e é provavelmente ainda mais rápido do que o aquecimento observado durante eventos de extinção por efeito de estufa como o MTPE e o Permiano. Esta velocidade de aquecimento irá quase certamente ter efeitos adicionados para além do contexto do paleoclima.

Anomalia dos Graus-Dia no Artico

(Quem olha para o gráfico de anomalia da temperatura no topo deste post pode ver que uma quantidade desproporcional da anomalia da temperatura global está a aparecer no Ártico. Mas a região do Extremo Norte acima da linha de Latitude de 80 graus está entre as regiões que experimentam anomalias do pico global. Lá, graus-dia abaixo de zero estão nos níveis mais baixos já registados – atingindo agora uma anomalia de -800 no registo do Ártico. Em termos simples – quanto menos graus-dia abaixo de zero o Ártico experiencia, o mais próximo estará de derreter. Fonte da imagem: CIRES / NOAA).

Um último ponto a deixar claro e que vale a pena repetir. Nós, ao darmos ouvidos aos negadores da mudança climática e deixarmos que entupam as obras políticas e económicas, provavelmente já trancámos no sistema alguns dos efeitos negativos das alterações climáticas, que poderiam ter sido evitados. O tempo para darmos ouvidos a esses tolos acabou. O tempo para arrastar os pés e andar com meias-medidas está agora a chegar ao fim. Precisamos de uma resposta muito rápida. Uma resposta que, neste momento, ainda está a ser adiada pela indústria de combustíveis fósseis e os negadores da mudança climática que incitaram a sua beligerância.

Links:

O Velho Normal Já Era

NASA GISS

Quente Quente Quente

Michael J. Ventrice

Ártico Sem Inverno em 2016 [Traduzido em Português]

Grande Salto nas Medições da Temperatura à Superfície e pelo Satélite

Centro de Previsão Climática da NOAA

Captação de Calor pelo Oceano Global na Era Industrial Duplica em Décadas Recentes

CIRES / NOAA

Governadores Republicanos Processam para Pararem o Plano de Energia Limpa

Traduzido do original The Roof is On Fire — Looks like February of 2016 Was 1.5 to 1.7 C Above 1880s Averages, publicado por Robertscribbler em http://robertscribbler.com/ a 3 de Março de 2016.

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